Poemas – Lira casual
Abaixo deixo algumas poesias do livro do meu amigo
Wilmar Rosolen Pimentel,
escritor, compositor e violeiro.
PAIXÃO DERRADEIRA
Eu busco na noite
a estrela primeira
nos bares, taças cheias
p’ra sufocar a paixão derradeira…
Calçadas e calçadas eu ando
para me esquecer que sou tão sozinho
Só do vento – tenho companhia
Só do vento – tenho carinho…
A nostalgia invade- me o peito
e louco tento de tudo fugir
e finjo minha própria dor
cantando canções p’ra me distrair
E quando eu passo e um bar
me abre as portas e me convida a entrar
pego a primeira mulher que encontro
e nos seus braços me deixo enamorar
Depois com os olhos fundos de orgia
e o cansaço de tentar não morrer
volto ao abandono e me desprezo
me fecho e a ninguém quero ver…
E com a boca amarga maldigo a sorte
a morte… – este pensamento que não me deixa
e brindo com fel a boêmia – refugio da dor
solidão, abandono e queixa…
O QUE HOUVE COM O PERFUME?
O que houve com perfume daquela rosa
que havia no jardim à beira do lago?
que fim levaram os beija-flores
que vinham aos bandos sugar o néctar
das flores que haviam por lá?
e as borboletas?
onde estão as borboletas que bailavam
aos raios do sol a música do zéfiro amante
numa coreografia mágica e só delas?
e as abelhas – pingos doirados
de luz e mel, que brincavam entre as vagas do jardim?
e o poeta que cantava em seus versos
esse festival gracioso de vida e candura
num lirismo suavemente adocicado
em que ele mesmo se faz parte dos seus versos?
onde andam todos?
por que já não se fazem mais os versos
que falam de luz, mel, perfumes e flores,
principalmente as flores? será que encontraram algo mais belo e forte,
ou será que perderam o encanto que tinham pela natureza?
existe por acaso, algo mais apaixonante?
e as musas, existem ainda
ou será que também foram deixadas de lado
como tantas outras coisas
que no tempo ficaram sepultadas
pela eternidade sem glórias?
FUGA
Este pranto que dos meus olhos flui
Nest’ hora em que a cismar minha alma antiga
Inquieta, ao tentar evitar evitar- me à esmo
No abismo da vida rolar periga.
Sinto a morte de mim se aproximando
E seu ar gelado a roçar- me as pálbebras
O desespero domina o meu ser
Que em vão procura a luz e não vê paz…
Nesta angústia de viver no abandono
Vou perdendo a fé e até minha crença
Tudo é martírio – solidão – Dues!
Por que deste- me esta cruel sentença?
pobre alma esta que carrego comigo
Escrava de si, é presa ao passado
Tem profundas cicatrizes que a vida
Cruelmente com seu ferro tem deixado.
Contudo, se a morte me der conforto
E para sempre findar esta angústia
Que venha buscar- me enquanto é noite
Quero morrer antes do raiar do dia…
Já que a vida é só tormento e dor
E até meus sonhos deixaram- me ao léu
Que me resta se nem a luz eu encontro
Mesmo quando em fuga procuro o céu?
Foge- me a esp’rança – já não sei de mim
Já nada resta e nada importa agora
Eis que o fantasma da morte me chama
Fecho os olhos – já é finda minha hora…
Deixo pois gravado aqui para sempre
Minha última aventura nesta terra
Perdoem- me portanto aqueles que vêem
Pecado na alma que por amor erra…