Arquivo para setembro \18\America/Sao_Paulo 2011

Poemas – Lira casual

Abaixo deixo algumas poesias do livro do meu amigo

Wilmar Rosolen Pimentel,

escritor, compositor e violeiro.


PAIXÃO DERRADEIRA

Eu busco na noite
a estrela primeira
nos bares, taças cheias
p’ra sufocar a paixão derradeira…
Calçadas e calçadas eu ando
para me esquecer que sou tão sozinho
Só do vento – tenho companhia
Só do vento – tenho carinho…

A nostalgia invade- me o peito
e louco tento de tudo fugir
e finjo minha própria dor
cantando canções p’ra me distrair
E quando eu passo e um bar
me abre as portas e me convida a entrar
pego a primeira mulher que encontro
e nos seus braços me deixo enamorar

Depois com os olhos fundos de orgia
e o cansaço de tentar não morrer
volto ao abandono e me desprezo
me fecho e a ninguém quero ver…
E com a boca amarga maldigo a sorte
a morte… – este pensamento que não me deixa
e brindo com fel a boêmia – refugio da dor
solidão, abandono e queixa…


O QUE HOUVE COM O PERFUME?

O que houve com perfume daquela rosa
que havia no jardim à beira do lago?
que fim levaram os beija-flores
que vinham aos bandos sugar o néctar
das flores que haviam por lá?
e as borboletas?
onde estão as borboletas que bailavam
aos raios do sol a música do zéfiro amante
numa coreografia mágica e só delas?
e as abelhas – pingos doirados
de luz e mel, que brincavam entre as vagas do jardim?
e o poeta que cantava em seus versos
esse festival gracioso de vida e candura
num lirismo suavemente adocicado
em que ele mesmo se faz parte dos seus versos?
onde andam todos?
por que já não se fazem mais os versos
que falam de luz, mel, perfumes e flores,
principalmente as flores? será que encontraram algo mais belo e forte,
ou será que perderam o encanto que tinham pela natureza?
existe por acaso, algo mais apaixonante?
e as musas, existem ainda
ou será que também foram deixadas de lado
como tantas outras coisas
que no tempo ficaram sepultadas
pela eternidade sem glórias?


FUGA

Este pranto que dos meus olhos flui
Nest’ hora em que a cismar minha alma antiga
Inquieta, ao tentar evitar evitar- me à esmo
No abismo da vida rolar periga.
Sinto a morte de mim se aproximando
E seu ar gelado a roçar- me as pálbebras
O desespero domina o meu ser
Que em vão procura a luz e não vê paz…

Nesta angústia de viver no abandono
Vou perdendo a fé e até minha crença
Tudo é martírio – solidão – Dues!
Por que deste- me esta cruel sentença?
pobre alma esta que carrego comigo
Escrava de si, é presa ao passado
Tem profundas cicatrizes que a vida
Cruelmente com seu ferro tem deixado.

Contudo, se a morte me der conforto
E para sempre findar esta angústia
Que venha buscar- me enquanto é noite
Quero morrer antes do raiar do dia…
Já que a vida é só tormento e dor
E até meus sonhos deixaram- me ao léu
Que me resta se nem a luz eu encontro
Mesmo quando em fuga procuro o céu?

Foge- me a esp’rança – já não sei de mim
Já nada resta e nada importa agora
Eis que o fantasma da morte me chama
Fecho os olhos – já é finda minha hora…
Deixo pois gravado aqui para sempre
Minha última aventura nesta terra
Perdoem- me portanto aqueles que vêem
Pecado na alma que por amor erra…

Kimi, onde está você?

Eu conheci Kimi e sua mãe em uma pequena vila do sertão. Nunca soube o nome da mãe e nem do pai de Kimi. A única coisa que fiquei sabendo, e que me deixou muito irritado, foi o fato de que o pai da menina era muito mal para ela e para a mãe. A sorte era que ele ficava muito tempo fora de casa, tanto que nem cheguei a vê-lo direito, a não ser em uma única vez que o vi passando pelo quintal, mas não vi muita coisa mais que um vulto.

Kimi era uma garotinha de uns cinco anos de idade, linda, meiga, inteligente e muito carinhosa. Eu não conseguia entender que necessidade alguem poderia ter em maltratar uma pessoinha como Kimi. Você assistiu aquele filme de uma menina paranormal chamada Matilda? Kimi se parecia muito com Matilda quando tinha a idade dela.

Matilda

Foto de Matilda

Pois bem, nessa época, estávamos eu, meu pai e minha irmã em uma casa nessa pequena vila e a mãe de Kimi reclamava dos maltratos do marido e dizia ter muita vontade de fugir daquele lugar e que queria fazê-lo aproveitando os longos períodos em que o malvado ficava fora de casa.
Resolvemos, eu e meu pai, que as ajudaríamos a se verem livre do fascínora. Não morávamos naquela casa onde as conhecemos, e não me lembro muito bem o que exatamente estávamos fazendo ali, mas resolvemos trazê-las conosco.
Não me recordo bem o que aconteceu, mas a mãe de Kimi teve que sair às pressas com a menina de lá e quando ficamos sabendo disso, resolvemos procurá-las para tentar descobrir o que tinha acontecido e onde elas estariam. A essa altura, já estávamos apenas eu e meu pai e não sei por qual motivo, nos separamos na busca por Kimi e sua mãe. Me lembro que peguei uma carona em um carro de um senhor que me levou até uma cidade da qual nem fiquei sabendo o nome.
Nessa cidade, encontrei meu pai com seu violão da frente verde. Foi uma ideia que ele teve, tendo em vista que vez ou outra, ele ou eu tocávamos violão e Kimi adorava ouvir nossas músicas. Meu pai tocava o violão de vez em quando, na esperança de que, se a menina ouvisse, acabaria por reconhecer.
Em um determinado momento, estávamos em frente a uma espécie de casa social, grande, se parecendo com o prédio de uma escola, onde tinham diversas pessoas no pátio cercado por uma grade. A situação lembrava um ambiente onde tinha acontecido alguma guerra ou catástrofe natural, e aquele prédio seria um apoio às pessoas que por algum motivo estavam precisando de alguma ajuda.
Encostamos em uma parte do muro e meu pai começou a tocar alguma coisa. De repente, eis que surge, em uma das portas daquele prédio, Kimi e sua mãe. A menina estava radiante de felicidades. Ela veio correndo em nossa direção e se abraçou com meu pai, que estava mais à frente e mais perto dela. Eu a peguei nos braços logo em seguida. Kimi estava com um sorriso e um olhar de felicidade radiantes. Dei um beijo no queixo dela e ela ampliou ainda mais aquele lindo sorriso. Eu estava muito feliz por tê-las encontrado, e foi nesse momento que acordei e percebi que, apesar de parecer tão real,a ponto de até hoje eu lembrar todos os detalhes, tudo não passou de um sonho.
Talvez eu tenha vivido algo assim em uma vida passada ou talvez Kimi seja dessa vida mesmo e esteja em algum lugar. A única certeza que eu tenho, é que permanece a pergunta:
“Kimi, onde você está?”